19 de jun. de 2011

"Os únicos presentes do mar são golpes duros e, às vezes, a chance de sentir-se forte. Eu não compreendo muito o mar, mas sei que as coisas são assim por aqui. E também sei como é importante na vida, não necessariamente ser forte, mas sentir-se forte. Confrontar-se ao menos uma vez, achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana, enfrentar a pedra surda e cega a sós sem outra ajuda além das próprias mãos e da cabeça."

1 de jun. de 2011

o que fazer desses restos? : sim, não: talvez:


Advérbio, classe gramatical invariável; palavra que modifica o verbo ou adjetivo ou outro advérbio. Sim: advérbio de afirmação. Não: advérbio de negação. Talvez: advérbio de dúvida.
Três pilares das certezas e incertezas das relações humanas. Podemos perceber, aqui, inicialmente, a pontuação. Aquele recurso que utilizamos na língua escrita para expressar o ritmo e melodia da língua falada. Vírgula: pausa curta. Ponto e vírgula: pausa não tão curta, o período ainda vai ser completado. Dois pontos: um esclarecimento. Ponto final: pausa longa, muito longa. O fim do período, ou seja, seu sentido está completo, sendo mais claro, acabou. Temos outros sinais gráficos, as interrogações, exclamações etc, mas creio que estes bastem no momento.
Não podemos esquecer a preposição, aquela palavra, também invariável, que liga dois elementos de uma orcação: a, ante, até, após, com, contra, desde, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás. (Creio que ainda sejam essas, as preposições aprendidas na 7ª série). Entre. A relação está entre os advérbios ou Entre na minha vida!
Por que a invariabilidade nas relações? E a variação? A aceitação? A penetração no âmago do outro? Porosidade? Efeito teflon?[1] As relações efêmeras. Instalações efêmeras. Passagens. Misturas. Doação. Instalação, performance, teatro, dança, relação. Relações humano-sócio-culturais. Relações. O que são? O que é cada uma dessas artes? E dessas pessoas? Precisamos nos apegar a conceitos para aceitar a arte e ao amor? Encontros e desencontros repletos de talvez, de sins e nãos. De SIM, NÃO: TALVEZ.
Um tempo... "as avessas” na seda de um papel.
No abismo do olhar do outro.
Na Solidão da ilha de cada um.
Então, o que fazer com os restos?[2]
Com a imagem de um homem na janela, dos apartamentos de uma metrópole, preso em seus conflitos, em seu universo pessoal, e uma mulher jogada ao chão encoberta por suas mágoas, sim, não: talvez, abre gestalts em um mundo em constante de-vir das relações e suas efemeridades. Valoriza os opostos dessas relações em sua concepção e movimentação. Oposição. Os opostos se atraem. Para ficar em pé, o homem está em constante oposição. Conflito eterno entre a gravidade e a linha de equilíbrio vertical. Oposição. Princípio constante. Barba[3] defende esse princípio como um dos geradores do estado de presença e, assim, alcançar o corpo decidido e, portanto, crível.
Cremos naqueles intérpretes que dilataram seus corpos e expandiram sua presença pelo espaço contagiando-nos com a beleza de uma oposição poética e lírica; forte e densa. Novamente a dança das oposições presentes em todas as relações. A vida. Oposta. Oposição.
Certas coisas
Composição: Nelson Motta e Lulu Santos
Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

A vida é mesmo assim,
Dia e noite, NÃO, SIM: TALVEZ.

[1] Conceitos de Tereza Rocha
[2] Texto disto pelos intérpretes criadores
[3] Eugenio Barba, teatrólogo


Escrito por Tomaz de Aquino, ator, diretor e professor, sobre o espetáculo Sim; Não; Talvez: Uma Doc-Dança sobre o Barravento ou a Devastação da Calma - do Núcleo Doc-Dança.


A Felicidade.

Pela poesia que se estende do concreto,
Pelas flores que nascem do asfalto,
Pelas ruínas que nos desconstroem,
Pelo desassossego incerto,
Pela coragem que nasce tímida,
Pela reinvenção de cada amor,
Pela força, pela vida, por qualquer coisa que se queira.


A felicidade,

Nasce renasce refaz ciclos refaz-se.
A felicidade quer, deseja, se toma de vontade
Se bebe aos litros, a felicidade se consome.
Antropofágica a felicidade.
Pela possibilidade de ser eterna em si mesma,
ensimesmada, espalha-se, esparrama-se, é líquida.
Quer qualquer forma, a felicidade quer ser.

A felicidade quer.


A queremos, por qualquer coisa que se queira, em qualquer forma.
Uma música para a felicidade, a cantemos, a dancemos, a sejamos também.
Sejamos mais.
Se reinventa na estensão do concreto, 
Se descontroe no caminho das flores,
Se desassossega perdida no asfalto
Se enconraja na maior da timidez,
Se fortalece quando tudo parece incerto,
Se encontra na poesia, na vida, em tudo que se queira.



A Felicidade.

29 de mai. de 2011

Flutuo.

Não parei para pensar, o fluxo dos meus pensamentos andam em desalinho, descaminhos, rios turvos, águas barrentas. O caso é que o acaso casou de vez com meus dias. Causando rebuliço e soluços demasiados em mim. Está fazendo morada, armando a barraca, plantando um jardim, cuidando da roseira. Semeando acasos? Se me ando a desandar os andares, aos saltos, encontro as verdades diárias. Os dias invadem-me, as horas procuram poros, adentram, o tempo transita por fora e pro dentro. Flutuo.
Se acaso eu me perder, procuro a luz de um farol mais próximo, e vou. Produzo meus próprios instantes de agora, por hora. Então assim busco um diálogo comigo mesma, em salas, casas, ruas, praças, bares, praias, no mar. Ainda penso no que poderia pensar.









Flutuo.

24 de jan. de 2011

Para se guardar, para se abrir.




"Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão; tranquilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo. Serei sempre apego pelo que vale à pena e desapego pelo que não quer valer. Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir."

 (Clarice Lispector)

11 de jan. de 2011

'Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu'




Cigarro - Zeca Baleiro









3 de jan. de 2011

ilhada

Talvez o ponto seja exatamente onde eu menos imagine que seja. Não é talvez o que se pergunta, mas como se pergunta. Como e porque. Mesmo no campo mais calmo, existe sempre algo de perturbador para se querer saber. Nada é muito do que parece.
Essa sensação de não sei o quê. Vontade de correr e não se fazer nada. Não ser nada. Sinto solidez, me solidifiquei na fragilidade. Finquei raízes numa terra estéril. Então o medo me aparece como a melhor cobertura de uma noite fria e insone.
O tempo fala por si e não espera ninguém, nem os cronômetros, relógios, ampulheta.
Vejo então, uma ilha solitária onde me aprisionei. Ao contrário das palavras boas e positivas que ando plantando por esses dias, não sinto no mais profundo. Os sentimentos precisam também purificar-se.
Não é o bastante.

Não gostaria e nem quero mais escrever mais nada disso, não quero mais sentir esse medo, essa angústia, nunca mais.
Logo eu. Mas não posso mentir para mim mesma e preciso libertar-me.
Encontrei refúgio nas palavras.

Quero ir embora.

[Tormentos de Alujá, pag 32]