17 de dez. de 2007

Música de fazer sentido.

Música, palavra que aguça
Sentindo, sentindo
Música, lavra vontades
Fazendo sentido
Música, sacia alardes
Sentindo o sentido
Música, milágrima exposta
Vivendo o destino

E na corrente da vida, a lágrima faz um rio de si, que se encontra com o mar.Formando música, forma, desforma, diz forma, transforma:
Sentindo, sentindo.

Música, palavra que aguça
Sentindo, sentindo
Música, lavra vontades
Fazendo sentido
Música, sacia alardes
Vivendo o destino
Música, milágrima exposta
Sentindo o sentido
Música, sem ter tido
Sentido, sentido...

12 de dez. de 2007

Dai-me Asas.

O Sol gritou três vezes a fúria do infinito
Ouvi passos efêmeros se aproximarem
Mas era o tilintar da horas que passam
[a conta-gota.
Existem raízes que saem dos meus dedos querendo chegar ao céu
É o sentir latente, tentando abstrair-me.

Movi o olhos para todas direções
Silêncio ensurdecedor, ensurdecendo toda a dor
Há um vácuo e uma sensação de abismo em mim
Mais um passo, menos um passo
Estou suspensa no ar
[dai-me asas.


22 de out. de 2007

Eu não sigo regras, nomes, fatos, leis. O que me encanta é a liberdade de existir, o simples prazer de respirar, sentir o tempo, o vento e as pessoas.
O progresso está em mim e de mim sai os sonhos mais altos, estar no topo é a busca. Não gosto dos braços cruzados, do não antes da descoberta, nem dos olhares que recriminam. O estar é o presente, o ser é eterno. Infinita é a mente que se expande e tenta compreender sem dogmas a vida. O limite quem cria somos nós mesmo, e no que eu acredito e torço fervorosa é no ser humano. Sim, o ser humano escondido debaixo das roupas da moda, dos brincos caros, do sorriso fingindo. O ser que sente de coração aberto e que cada segundo a descoberta se faz pulsante. Ser aquela criança que deita na grama e vê as estrelas sorrindo, se permite misturar no ar os sentidos.
Sentidos que ardem, que palpitam. Dançar na noite e mudar todos os dias, trocar a valsinha, tocar o céu num salto. Ficar na ponta dos pés, o peso do mundo não sou eu, é o Amor. O peso mais leve, que eleva e revela, o Tempo.
Amor e Tempo são irmãos e só andam de mãos dadas.
Dadas as horas finas como a flor que nasceu outrora. É se permitir ouvir a música e sê-la da forma mais pura e doce, uma música composta de silêncio e movimento, a energia musicada.
Não há pressa...

9 de out. de 2007

Somou os últimos quatro dígitos da placa do carro vermelho parado no sinal da esquina da padaria, enquanto era observada por um rapaz que vestia calça quadriculada e carregava livros de Drummond. Sentou-se no banco verde de madeira fina, soltou as pernas como que quisesse deitar-se, vinham quadrados seus pensamentos; cama, quarto, sala, porta. Tinha grama por todos os lados da praça, o observador carregado de Drummond sentou silenciosamente à sua frente no tapete verde, não queria chamar atenção, ela era a atenção. Não era a primeira vez que a via, era a quarta, e hoje, estava mais linda. Ela estralou os dedos lembrando das estrelas da noite passada, formavam quatro corações interligados, mas não soube distinguir se fora um sonho ou realidade. Algumas crianças gritavam no parquinho de apenas quatro brinquedos semi-destruídos, tinham tanta felicidade nos olhos que seus olhos ofuscaram e libertou um sorriso. Nostalgia. Mas ele estava vidrado demais nela para ouvir as crianças e descobriu que ela tinha o sorriso da mãe. Nostalgia. Era pôr-do-sol, os quatro grandes prédios cobriam a visão da luz dourada. Ele sabia que logo mais ela se levantaria e iria voltar para a sua vida madura demais para os sonhos da manhã. Era pôr-do-sol. Levantou-se lentamente, abriu em uma página qualquer dos poemas de Drummond, se encaminhou para a moça de olhos infantis para os gritos alegres, e sussurou em seu ouvido, mais próximo e se ouviria as batidas desesperadas de seu peito, e quis os últimos versos da primeira estrofe do poema que escolheu no escuro. Ele não teria explicação.

"Os lírios não nascem da lei.

Meu nome é tumulto,

e escreve-se na pedra."



Saiu, deixando-a no pôr-do-sol escondido pelos quatro prédios, em meio as risadas dos meninos, e com seus sussurros desvendadores de poesia.

6 de jun. de 2007

1 de jun. de 2007



"Essa cidade me atravessa..."

E ainda me estranho sentir os dias passarem ligeiramente mórbidos por mim, me levando, me roubando os poros abertos. Não tenho mais desculpas para dar a mim mesma sobre esta falta de ação, esse silêncio berrante e esse desanimo que por vezes me parece tão genético, tão encorporado por minhas células...

Esta cidade me atravessa, mas eu nem saio de casa.

... Com licença.

23 de mai. de 2007

Quotidiano. [azedo]

Amontoou-se na poltrona verde-limão, detestava aquela cor gritante, escancarada, que tomava todo o brilho das outras mobílias. A sala estava escura, havia um recado perto do cinzeiro gasto, dizia:

"Me espere pro jantar, mesmo que seja os restos de ontem.
Não me demoro...

beijo, azedinha!"

Azedinha! Soltou um sorriso surpreso, fazia tempo que ele não a chamava assim. Seu pai a chamava de abelhinha, com um objetivo doce, mas com um ferrão feroz... E no final, ela sempre achava que pela rima, ou qualquer outro motivo, azedinha e abelhinha eram quase a mesma coisa. E ela era as duas. Azeda, doce e fugaz.
Tirou os sapatos, aqueles sádicos aniquiladores de dedos inocentes!Alívio. Foi até a cozinha, abriu a geladeira, seus olhos cresceram olhando para a lateral, parecia que se oxidara de um dia para o outro. Tempo... Bebeu água, olhou o fogão, a parte interna e tudo vazio. Ligou para Lego's Pizaria. Metade calabreza, metade frango. Iriam comer pizza aquela noite...

Sentiu um vago vazio. A palavra pizza era estranha, estranha como aquelas cortinas levemente empoeiradas, as sujeiras nos cantos das paredes, a cor daquela maldita poltrona, e tanta coisa a incomodava em seu lar.
"Deve ser fome", pensou. Ele entrou:

-Demorou hoje! O que sobrou de ontem?
-Nada, você devorou tudo. Pedi pizza. Não me olhe assim, não estou gorda!
-Estou sem fome, azeda. Boa noite.
-Que lua é essa?
-Eu entendi. Não, não, hoje eu só quero escrever.
-E para inspiração fará sacrifícios de fome?
-Boa noite.
-Boa.

Sentou-se na poltrona, aquela cor, aquela cor. Ligou a tv, por que essas novelas existem? E por que são tão parecidas? Pulou entre canais e seus olhos pesavam. Pesavam, mais e mais... Adormeceu.

triiiiim, triiiiim.

A pizza chegou.

19 de abr. de 2007

danças.

Não me sai nada de bom nesta merda.
Deve ser o aperto, o aperto de idéias condensadas.
Desvairadas, vai cumprimir-me o dia...
Não há nada que se inventar?
Já fizeram tudo? Sonharam com tudo?
Escreveram o que se havia de escrever entre milhões de coisas que todo o plano sensorial nos permite? E sobre as crianças colhendo conchas na praia? Já descreveram da sensação boa de pisar na areia e vez ou outra, na conchinha gelada? Lembrar daqueles cabelos compridos brincando ao vento, querendo chegar ao céu, veja só, ao céu! E o mar... e seu infinito. Não me parece mesmo ter fim. Pular ondinhas, sorrir aos cantos do rosto, sentir, sentir e dançar. No alto de uma duna, mesmo que sozinha, dançar ouvindo o mar... Ele fala coisas tão bonitas, canta uma música tão doce, que esqueço até que sua água é salgada. Como aqueles biscoitos de padaria...
Aahh, dança pequena. Que superas a metafísica de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Visto que é só lembrança de algo que não aconteceu [aqui, agora]...

16 de abr. de 2007

28 de mar. de 2007


Ela reiventa-se a cada minuto que passa, cada instante é novo como a surpresa da criança que descobre coisas novas.
Ela é um vento que perpetua nos cantos dos quartos largos, repletos de estrelas.elas solitárias. Ela descobre de si, e se conhece mais feliz.

23 de mar. de 2007

zumbir-se.

Foi aquela dor de cabeça que fazia arder sua mente
que estacionou todos os seus pensamentos:
Ela parou de escrever.
Parou de pensar. E foi então que o vazio se fez mais presente
até mesmo que o ar, o qual respirava com dificuldade.
Percebeu então que o vazio vinha de fora pra dentro
e de dentro pra fora, inexplicavelmente.
Um fluxo interminavel, continuo, renascente.
O vazio tirava suas forças, pouco a pouco...
E se nutria e crescia, um vazio pardo que zumbia.
Ela estava tonta. Zumbia.
Soltou a caneta, tentou se levantar.
Zumbia.
As estrelas do lado de fora da janela brilhavam
feito vagalumes endoidecidos, até moviam-se...
Ai chega, dói demais. Zumbia.
A cabeça pesava trezentas toneladas de vazio pardo.
Desses que não se compram em farmácias,
nem se vêem na televisão com freqüencias distorcidas.
Estava fora do canal de si. E zumbia.

19 de mar. de 2007

agora o samba é menino.


Destencione seus músculos. seus nervos nervosos. seus pensamentos reflexos. seus segundos de espera.
Relaxe as costas cansadas. seu olhar rígido. suas pernas elétricas. suas mãos suadas.
Acalme os instantes cobrados. suas cobranças de si. suas dívidas com o tempo. suas dúvidas da vida.
Esfrie a cabeça. seu sangue fervente. sua voz efervescente. seus hábitos inconstantes. seu dia interminável.
e agora, agora o samba é menino.

13 de mar. de 2007

Ao dia.


O dia estava mais claro que o habitual, abrira bem as cortinas de todas as janelas da casa, para contemplar o céu. Identificou-se com as nuvens que se abraçavam, aos poucos pouquinhos. Vez ou outra ouvia um pássaro cantar a canção do dia, que ninguém mais escuta.
"Eles preferem Beatles", pensou.
Mas lá estava ela e aquele céu imenso, quis então saber voar e conquistar cada milímetro de espaço que o azul infinito oferecia. Então teve um breve sentimento que suas estórias sempre são sobre nada. Nada. E ela se sentia branca, não como o dia, mas um branco vazio, meio brilhoso e pastoso. Um branco pastoso. Quis correr e se misturar com as cores do dia, com o azul do céu, mas descobriu-se estática, os pés pesados e presos no branco pastoso.
Peso, preso, pastoso.
Na ordem desordenada de seus pensamentos.

8 de mar. de 2007

Ela, a escuridão e ponto azul.

Correu desesperadamente ao encontro do ponto azul, como uma esfera, só que levemente triangular, para não ser o que espera que seja. Correu, correu e correu sem fim dentro de si.
procurava-se. E só via esse ponto azul, essa semi-esfera e mais nada. Fechara os olhos a quatro horas atrás avisando a todos que de uma vez por todas iria se encontrar e se entender.
E à quatro horas, só existe esse ponto azul, como uma esfera, só que levemente triangular, para não ser o que espera que seja. E mais nada. Ela, a escuridão e o ponto azul.
Ao menos o ponto fosse amarelo, pensou. Mas era um azul faiscante e inexplicavel. Apenas existia. E vibrava no ar as centenas de moléculas que ela criara em seu universo. Gostava de poesia, mas seu infinito era tão vazio e relutara tanto contra essa simples esfera azul que não entendia sua existência e persistência. Ela queria cores, ela queria ser Lucy e estar no céu com os diamantes. Mas ao invés disso, encontrava-se em uma escuridão e um ponto azul, como uma esfera, só que levemente triangular, para não ser o que espera que seja.
Correu, correu e correu para dentro de si, cada vez mais. A luz azul crescia, mas ela não se enxergava. Ela era seus olhos, de castanho brilhoso. Olhava ao redor e já estava tão perto que a luz não tinha nem começo nem fim. Estava coberta de luz azul. Agora a luz era mais clara que antes, mais viva e ela se sentia bem. Ao fundo, um som, harpas talvez, violinos e violões. Se aproximavam abraçando o ar e seus ouvidos, calmamente. Sentia-se. E isso era incrível.
Sentir-se.
Ela viu cabelos brincar no ar, não notara, mas havia se entregado a música, a dança. Eram um só agora. Então, foi caminhando em si mesma, buscando outras coisas que poderiam existir em seu interior. Sentiu uma silhueta se desenhar no ar. Fixou o olhar amendoado e viu um espelho refletir sua própria imagem. Aproximando-se, aproximando-se, aproximando-se, cada vez mais. A menina sorria para si e...
Despertou. Droga de telefone.

23 de fev. de 2007

infinito

Um infinito musicado dentro de mim.
um infinito colorido por todos os cantos.
em todos os lares, por todas as partes,o infinito não se reparte...
não se reparte porém se multiplica em cores
em sons, tons.O infinito se mutiplica em vida...
são pequenos pontos flutuando no ar...
e dentro dos pequenos pontos, infinitos sobre infinitos multicoloridos se enlaçando...
entrelaçados... quase feitos em nó...
quase feitos de nós por nós.
o infinito entrelaçado entre nossos dedos entrelaçados em nós.
nosso próprio cheiro, nosso próprio vento, nosso próprio tempo... infinito.
Um tempo infinito está entre os nós de cabelos entre nós da rua passageira...
onde nossos passos sambam de sonhos
os passos no compasso repassa o samba,que a corda é bamba, é bamba...
é bamba de vibrar no samba do cavaquinho.
inho inho inho:
infinito!

12 de fev. de 2007

íris.


São os pingos da chuva que te fazem dormir,
te embalam ao som da noite calma, acalentando o sono...
E em teu pensamento aparece o arco-íris, que é mais belo que meu olhar.
E tu te encantas com a beleza única da coisa viva.
As sete cores de mãos dadas abraçando a terra, que se entrega.
Então, tu escutas uma música, leve, suave, leva a dor...
A música te faz sentir tão bem, que parece que flutuas aos balanços das notas,
Notas que és tão feliz, que o momento a partir de agora, se torna eterno.
E então, o sono é como um afago no peito.
Voas... Dormes.

4 de fev. de 2007

Ela.


Abriu as portas do ármario mais uma vez.
Talvez fosse aquela bailarina estúpida que satitava em sua cabeça.
Ou a 9° Sinfonia de Ludwig van Beethoven que abraçava seu crânio com fitas e afetos.
Estava cansada e não queria visitas naquela noite chuvosa.
E nem nas outras que se seguiam, se isolara do mundo.
E a muito tempo não ouvia voz de gente nem de bicho.
Só o próprio silêncio, só o próprio peito batendo solitário na loucura que ela mesma criara.
E se orgulhava de tudo isso, e trazia consigo os sentimentos de criança.
Não crescera, talvez.
Fechou as portas do ármario e sentou-se na cadeira de balanço.
Mas não se balançava, não tinha forças para isso.
Pensou nas macieras que apodreciam dos jardins da casa.
Nos cascos no chão, nos vermes que acumulavam.
E o flamboyant vermelho que só existia em sua memória cálida.
Suas folhas vivas que caiam, e ela não entendia.
Se levantou, e abriu as portas do ármario mais uma vez.

21 de jan. de 2007

Escutei ruídos vindo do lado esquerdo do quarto
devem ser meus sonhos que a tempo muito os guardo.
Pacientemente, eles me visitam com freqüência
Mas eu mudo sempre a freqüência do rádio.
E já sou outra a cada segundo que passa.

8 de jan. de 2007

Laura.



Ela pegou o livro que pousava sobre a instante, leu vagarosamente cada letra que se seguia, como se tivesse aprendido a ler ontem. I n v e n t á r i o d o I r - r e m e d i á v e l. Abriu qualquer página, afim de que a sorte lhe disse-se algo, Coração de Alzira. Era esse o conto, começou a passar o olhar por entre as palavras, mas o pensamento nem próximo se encontrava. Talvez imaginava-se vendo o mar, pés sobre a areia, à luz do dia, do dia-claro-como-seu-vazio. Claro como seu nada de sentimentos, nem tinha sequer histórias para contar, vivia vaga se dividindo nos dias, nas horas, nos quadros, quartos, esquinas-sem-fins. Apoiou-se no criado-mudo, que parecia falar mais que o homem do noticiário da rádio, de voz frenética. Escutou o canto do pássaro lá fora da casa, a redoma, de seu mundo vasto e inóspito, seco. Não sentiu nada, nem a pequena sensação de liberdade que se sente ao ouvir o canto. Laura estava morta dentro de si. Nem o eco de seus próprios passos conseguia ouvia.
Há anos morava só, e não precisa de ninguém. E ninguém precisava dela. Jogou o livro na cama bagunçada da noite anterior, lembrava-se bem, desde menina não gostava de arrumar a cama. Abriu a cortina da sala de estar, e lá estavam sentados na poltrona seus sonhos. Acomodados. Como era mesmo a sua risada? Nem isso, nem isso...
Laura, não esqueça o abraço. Não esqueça.
E de veio como um raio a vontade, aquela louca vontade de fugir de tudo. E meu Deus, nem reparara, mas sentia.
E sentia mais que nunca. E de repente dançava sobre si a saia longa.

-Vou voar. - ela disse.