5 de mar. de 2010

Acordei com o calor da manhã comendo meu sonho, meu sono ensopado. Ainda a sensação da noite não dormida resiste no corpo, que se move lento, fatigado por algo, matéria sonolenta, lenta mente acordando inerte. Não é cedo como se podia pensar, é tarde, sempre é tarde. Mas o organismo às vezes não acompanha com tanta rapidez o movimento do tempo, que pior que o calor, come tudo. Devora com as horas o que se achava que ainda dava tempo, não dá, já passou. Parece-me que o tempo liberta e aprisiona-nos em seus ponteiros assimétricos, na força que empenha quando movimenta de um algarismo a outro. Preso e libertos no espaço-tempo que nos movimenta em seus segundos. É tarde, como havia dito, mas as janelas ainda estão fechadas, embora a claridade me seja clara. O calor, como o tempo me consome, usam de artifícios para digerir-me. A angustia de dormir até tarde, perder tempo e ser devorada pelo calor também me consome, e no fim tenho a sensação de não existir depois de tanto esses seres abstratos me levarem. Mas ainda é dia, e vou indo antes que não me reste mais nada.