13 de abr. de 2008

costura-se

Costurou delicadamente seus sonhos azuis junto aos vermelhos, os sonhos azuis são sonhos da infância, que tem cor de céu, sabor de vento, de menino vadio correndo solto pelo mundo. Os vermelhos, são sonhos da adolescência, as pitadas de insegurança que entram e saem da nossa vida para fazer a corda bamba balançar vez em quando, a cor do desassossego. A cor do sonho que quer tudo e quer agora, amanhã é tarde demais e o segundo depois já é o da dúvida. Costurou os sonhos um ao lado do outro, para não haver espaço, nem tempo que os diferenciasse. Em seguida pegou os verdes, os sonhos nos quais nascem flores, frutos e sementes, sonhos que crescem com gotas finas da garoa da manhã, com cheiro de abraço de irmão que nos convida à dar um mergulho no açude pertinha da casa da vó. Verde não é cor só da esperança, é da persistência, cor da coragem de continuar, mesmo quando o sambista resolve acelerar e você se enrola no enredo. Não é tão fácil quando todos de repente, não entendem suas vontades. Os anceios crescem, as necessidades gritam e os limites parecem te engolir de corpo inteiro. Mas o tempo tem mesmo uma canção muito linda e se consegue aos poucos encontrar a estrada do riso. O verde é cor que brilha feito estrela e te reflete o lado de dentro, o que ninguém nunca vê.
Pegou carinhosamente esses sonhos de histórias e memórias pulsantes, todos misturados, azul, vermelho, verde e a infinidade de entre-cores que existe e os bordou na pele, naquele cantinho, o lado esquerdo do peito. Bordou em espiral, para lembrar sempre que como o tempo, que como ela, seus sonhos também não tem começo, nem meio, nem fim...

9 de abr. de 2008

Tinha mãos de velha, embora todo o corpo contrariasse essa idéia de passado encravado. Principalmente os olhos, duas caixinhas, duas portinhas abertas à ligando ao mundo louco. Com cores de vida brilhavam em dias e noites cinzentos da cidade de rotina, cidade deve ser sinônimo de rotina, repetição que perde sentido. À tarde, costumava sentar nos bancos solitários das praças solitárias para ficar olhando a agitação, o movimento, o correr e passar de pessoas. Observava cada uma, as roupas, os cabelos, olhares, o modo de como andam. O que será que pensam? Quem serão? O que sentem, pelo que tem passado? Cada um tem uma história, pensou a menina de olhos vivos. E se ignoram, não deixava de notar o quanto demonstravam sua indiferença com a existência do outro. O outro, talvez nem nunca tenham parado para entender essa palavra. O que é o outro? Mas às 16h ela parava com todos esses questionamentos, não adianta pensar sozinha nisso, enquanto ninguém a conhesse. Levantou, andou sozinha entre buzinas, carros, fumaça, barulho de gente séria resolvendo problemas sérios.
-Toda repetição perde sentido, falou baixinho, alheia.