22 de out. de 2007

Eu não sigo regras, nomes, fatos, leis. O que me encanta é a liberdade de existir, o simples prazer de respirar, sentir o tempo, o vento e as pessoas.
O progresso está em mim e de mim sai os sonhos mais altos, estar no topo é a busca. Não gosto dos braços cruzados, do não antes da descoberta, nem dos olhares que recriminam. O estar é o presente, o ser é eterno. Infinita é a mente que se expande e tenta compreender sem dogmas a vida. O limite quem cria somos nós mesmo, e no que eu acredito e torço fervorosa é no ser humano. Sim, o ser humano escondido debaixo das roupas da moda, dos brincos caros, do sorriso fingindo. O ser que sente de coração aberto e que cada segundo a descoberta se faz pulsante. Ser aquela criança que deita na grama e vê as estrelas sorrindo, se permite misturar no ar os sentidos.
Sentidos que ardem, que palpitam. Dançar na noite e mudar todos os dias, trocar a valsinha, tocar o céu num salto. Ficar na ponta dos pés, o peso do mundo não sou eu, é o Amor. O peso mais leve, que eleva e revela, o Tempo.
Amor e Tempo são irmãos e só andam de mãos dadas.
Dadas as horas finas como a flor que nasceu outrora. É se permitir ouvir a música e sê-la da forma mais pura e doce, uma música composta de silêncio e movimento, a energia musicada.
Não há pressa...

9 de out. de 2007

Somou os últimos quatro dígitos da placa do carro vermelho parado no sinal da esquina da padaria, enquanto era observada por um rapaz que vestia calça quadriculada e carregava livros de Drummond. Sentou-se no banco verde de madeira fina, soltou as pernas como que quisesse deitar-se, vinham quadrados seus pensamentos; cama, quarto, sala, porta. Tinha grama por todos os lados da praça, o observador carregado de Drummond sentou silenciosamente à sua frente no tapete verde, não queria chamar atenção, ela era a atenção. Não era a primeira vez que a via, era a quarta, e hoje, estava mais linda. Ela estralou os dedos lembrando das estrelas da noite passada, formavam quatro corações interligados, mas não soube distinguir se fora um sonho ou realidade. Algumas crianças gritavam no parquinho de apenas quatro brinquedos semi-destruídos, tinham tanta felicidade nos olhos que seus olhos ofuscaram e libertou um sorriso. Nostalgia. Mas ele estava vidrado demais nela para ouvir as crianças e descobriu que ela tinha o sorriso da mãe. Nostalgia. Era pôr-do-sol, os quatro grandes prédios cobriam a visão da luz dourada. Ele sabia que logo mais ela se levantaria e iria voltar para a sua vida madura demais para os sonhos da manhã. Era pôr-do-sol. Levantou-se lentamente, abriu em uma página qualquer dos poemas de Drummond, se encaminhou para a moça de olhos infantis para os gritos alegres, e sussurou em seu ouvido, mais próximo e se ouviria as batidas desesperadas de seu peito, e quis os últimos versos da primeira estrofe do poema que escolheu no escuro. Ele não teria explicação.

"Os lírios não nascem da lei.

Meu nome é tumulto,

e escreve-se na pedra."



Saiu, deixando-a no pôr-do-sol escondido pelos quatro prédios, em meio as risadas dos meninos, e com seus sussurros desvendadores de poesia.