21 de jan. de 2007

Escutei ruídos vindo do lado esquerdo do quarto
devem ser meus sonhos que a tempo muito os guardo.
Pacientemente, eles me visitam com freqüência
Mas eu mudo sempre a freqüência do rádio.
E já sou outra a cada segundo que passa.

8 de jan. de 2007

Laura.



Ela pegou o livro que pousava sobre a instante, leu vagarosamente cada letra que se seguia, como se tivesse aprendido a ler ontem. I n v e n t á r i o d o I r - r e m e d i á v e l. Abriu qualquer página, afim de que a sorte lhe disse-se algo, Coração de Alzira. Era esse o conto, começou a passar o olhar por entre as palavras, mas o pensamento nem próximo se encontrava. Talvez imaginava-se vendo o mar, pés sobre a areia, à luz do dia, do dia-claro-como-seu-vazio. Claro como seu nada de sentimentos, nem tinha sequer histórias para contar, vivia vaga se dividindo nos dias, nas horas, nos quadros, quartos, esquinas-sem-fins. Apoiou-se no criado-mudo, que parecia falar mais que o homem do noticiário da rádio, de voz frenética. Escutou o canto do pássaro lá fora da casa, a redoma, de seu mundo vasto e inóspito, seco. Não sentiu nada, nem a pequena sensação de liberdade que se sente ao ouvir o canto. Laura estava morta dentro de si. Nem o eco de seus próprios passos conseguia ouvia.
Há anos morava só, e não precisa de ninguém. E ninguém precisava dela. Jogou o livro na cama bagunçada da noite anterior, lembrava-se bem, desde menina não gostava de arrumar a cama. Abriu a cortina da sala de estar, e lá estavam sentados na poltrona seus sonhos. Acomodados. Como era mesmo a sua risada? Nem isso, nem isso...
Laura, não esqueça o abraço. Não esqueça.
E de veio como um raio a vontade, aquela louca vontade de fugir de tudo. E meu Deus, nem reparara, mas sentia.
E sentia mais que nunca. E de repente dançava sobre si a saia longa.

-Vou voar. - ela disse.